sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Minos

Caçava o ser seu duplo, em um vitral de quartos disperso em salas desertas e paredes inacabadas, sem definir, em suas arrebarbas, portas e portais, encontros ou desencontros. Este que saía ou entrava quando queria; este que se entrecasava com os adornos inexistentes da sinuosa cortina de barbas brancas, que as aranhas deixavam pela borda do poço redondo e lunar. Lua branca, lupineal, uma forma esgarçada e temerosa de romper inegáveis desejos de ser outro ou ser salvo, enquanto somente se perdia dos e os brinquedos de que as imagens construídas de algo invivido formatavam-se. De maior súbito, escriturou-se a cada lugar e passo que, correspondentemente calculava por ser este, por anos, sua única forma de ver como passava o tempo utopicamente entre a estrela maior e ele. De vez em vez vinha, por qualquer lado igual, infinitas vezes uns seres, humanos, pessoas, pessoas. Tinham cara diferente à minha, sem cornos, simples serpenteados corpos fracos, sem jeito algum ao se deparar o seu redentor e sem a vontade de estar embebidos de sangue em poucos passos ao melhor que eu poderia fazer. Um príncipe que se preza não mistura teu sangue aos outros, mesmo que as vontades sejam Deles, ou mesmo o raio de Zeus caia sobre suas vontades. Ao menos não o faria, tenho pena dessa parte do mundo: esses seres podres, profanos e quase assim lúdicos. São belos às vezes, sim, são as vezes belos; sinto em ver o cheiro de cada pele caída que demarcam assim, as diferenças entre as paredes sem remos. Por cada par de pais eu via, de longe, ao sombrear do templo no tempo o mar, e seu cheiro salgado de véspera, chuvosa ou solar, algo que é internamente ornado para separar seres superiores de inferiores. Por Poseidon, essas águas ainda hão de ser minhas. Muitas vezes eu penso em me re-achar por aqui, e até encontro – dois ou mais eus – não tão bons quanto Eu. Mesmo que a cada espelhadiço argila e pedras somem e tomem posso dos vasos, iguais aqueles que a mãe-rainha tem no castelo, jamais haverá algum igual. Sou como a estrela mor, e meu nome, Asterion, é único também. Ao que sei, um pobre rendido me disse que um dia também terei minha chance de me unir ao mais alto poder divino. Mesmo que numa súplica, que seja de forma mais irreversível, espero aqui por esta ascensão. Tenho enquanto o outro o ser que toma a forma à outro e em outro, a possibilidade de ser uno. Mas espero mais, até que o fogo da última tocha do templo se apague e leve, para os astros, este sopro leve de luz.

(Inspirado no conto "A Casa de Asterion", de Jorge Luís Borges.)

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Perdição III

Delícia ar convexo,
De vez em andaimes,
Sopra o terço do universo num único verso.
Em bíblicotécnicas,
Desevoluções convergem pensamentos,
Folha de seda,
Capa de couro,
Letras douradas e cetim.
Signos, palavras soltas,
Escreveste tudo, uma história meio-fim-de-tarde,
Num grande olhar a desenganar e quando
Esverdeado o terço passo
parte em vão,
A xícara rompe a asa do anjo caído,
O café se perde.
Mais água em ebulição.

Perdição II

Ia apenas pelo lago,
Não outro e sim, 
este lago.
O lago dela, a passarela,
O Sol
embrasado,
Cadeia do tempo passado,
Pássaro a passear pelos ares
andar à andares,
Pesado ar frisante,
O calor do gelo que caíra no congelador.
Não achei nada que procurava,
A dor da casa,
Aquela dor.
Àquela.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Perdição I

Era tudo sonho de uma noite que sonhado
sonhou o sonhador romântico,
Eu perdido, eu achando
que o achado era Eu,
Que o melhor era eu.
Quem é?
Quem és?
Quem quer?
Nem que a chuva caia, nem que o raio pare.
Meu escudo é a força da verdade,
E se ela dói,
A espada fere-me.
A magia é o contratempo da maldade.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Lapso V

Suba,
Rua,
Salto,
Quebrado,
Esquecido,
Esquecida?

Mais-Valia,
Mais-Vadia
Mais-de-Gozar,
Mais-que-a-Vida.

Trocados no bolso,
Falo na boca,
Falo com a boca,
Falo da boca.

Aos pedaços,
Despedaçados,
Abaixo da linha,
Do tesão,
Do prazer perdido,
Na multidão.

Lapso IV

Fumaceei os deslumbres,
Esfumacei.
Desenhei em preto o branco no branco breu do preto,
Passeei,
Empreteci a dengosa cortina no cortinado acorrentado em mim,
Preso na pedra da porta preciosa.
Alcoolizei a dor em litros,
Desfiz estrelas em pó,
Inalei,
Viajei pelo cosmos.

Lapso III

Nudez infantil nas janelas e,
Nos vidros, das passarelas
do inferno do deus Cristão,
Nas casas-sacras dos apostulados,
No réquiem mais tenebroso,
Orai,
Relute contra o corpo teu,
Pai,
Refaça o refluxo ganancioso,
Ganhe mundos,
Desfaça gente.
Nudez infantil nos vitrais,
Pensamentos, drogas,
Desenhos astrais,
Anais,
Totais,
Mais um problema,
Para as pessoas,
Banais.

Lapso II

Resvalava a tenebrosa terra temida,
Que temia o jovem teimoso.


Sobrava a linha, o corte, o tesouro,
E a Lâmina mais cortante
do seu barbeador,
Sombreando de vermelho-coração
as bordas da minha janela,
O Chão,

A doce desilusão,
Da estrada alheia ao meu desabor.

Lapso

Aquele olhar não era pra ir,






Pois sempre te quis aqui e ver deixar






seu rosto na chuva,






Faz meu desejo assombrar




Os lençóis da minha cama!

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Noite Fria

Simples.
A cal,
A terra,
A dor,
Tensa.
A mata,
Que mata,
O amor,
Dura. 
A passagem,
Nesta miragem,
Da palha,
Amarelada.
A tarde,
Cor cinza,
Cor nada,
Coroada.
De flores,
De pássaros,
De imagens,
Sabor.
Um doce,
E suado,
O bagaço
O homem,
O espaço,
É velado,
Do meu
pro seu
Cobertor.