terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Barello, Extra.

É delicado dizer que sim
quando as faces rubram ao simples aceno,
Gestos obscenos, antíteses do ser que casto, 
Por vezes fora a Virgem, por vez, Virginiano.
É singelo envolver-se num balaústre,
Esconder-se nas entrelinhas da escada-cão
da vida, da casa, da semana:
Que não passa, não volta - envolta a trapos do que fomos.
É ilegal usar drogas ilegais,
Mas é possível me entorpecer todos os dias e minutos
com seu cheiro e sua lembrança,
E com sorte, ter overdose do nosso sexo.
É indelicado molhar cabelos lavados,
Mas nem sempre existe continuação para a compreensão humana das coisas.
As vezes devemos apenas voar,
Sair sem rumo,
Como palavras perdidas em quartos escuros,
Entre as árvores ante-lago, pedindo mais,
Pedindo gritos, luxúria,
E recebendo o amor em todas as suas formas.

É certo que o certo não existe,
Mas é possível 
somente pra que enxerga as coisas à sua frente,
Como o vinho ressecado no tênis,
Ou a marca marcada na pele 
e no coração acorrentado. 
 

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Não esqueci o seu abraço...

... Quando apenas o que via eram destroços do dia que passou em contrapesos e corações apertados. Eu queria ter-te a toda hora, mas meu-eu seguro segurava-se nos fios do seu sorriso largo para conter todo o desejo. Segurei por vezes tua mão num gesto fraterno, que era a possibilidade de agora. Hoje escreverei pouco pois o pouco que vi entre as árvores que passavam no passeio da estrada percorrida me fizeram refletir sobre o que realmente posso e não ter, ser e fazer. "Estar contigo é o bastante". Momentos de reflexão pós-queda não podem me abater mais. Com sua força irei onde só nossos olhos podem imaginar...

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Matinal

Na ilha de vidro caminha o canalha demente.
Ascende o ser perdido entreolhos, entreolhares permissiosos.
Doutrina invertida gela a lama que encobre o corpo pálido, indecente.
Procuro-te, meu redentor, em sonho.
Encontro-te, minha salvação, em realidade.
Abraço o tronco do corpo nu e branco, como se deveras fosse a última vez.
Mas é mais uma vez única, importante tanto quanto as brumas que escondem a cidade faixa-verde.
Eu te encontro aqui, sempre a cada olhar e quando me pedes com o olhar pra ficar mais um minuto aqui, intacto.
Te encontro nos cômodos da casa, no banho à espreitar.
Meu casaco, seu abraço.
Meu toque, suas mãos a me guiar.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Maquinaria

Penso, dispenso; abstraio: canso.
Sorrio, relembro e prometo encanto
na relva que cobre a selva,
Na calha que caí a água-céu
no arranha-céus,
Na enxurrada-vida
vivida a nós e trapos,
Em cada beco e esquina sem laço,
Em trovoadas pagãs;
Em devaneios perdidos e um casaco de linho 
colorido pela luz dos olhos do ser-amor,
Cantava apressado adormecido
seus pêlos cor-de-pêlo,
Na sua pele que inebria o meu ser-seu.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Dezembro

Era o último e chovia. Era o desenho tal o da sombra-céu, e caía sobre meus ombros como manto acolhedor. Era tentativa de virar as cartas do jogo, redefini-lo para iniciar uma nova etapa de contos e frases incertas. Era a chance de querer mais, de estar mais onde, quando e com quem me trás a melhor e mais amável paz. Era uma hora a mais no dia, e menos de sono. Era uma certeza uníssona de trazer para perto tudo o que realmente importa para resplandecer a catarse entre os seres que se amam. Era Dezembro, e eu nem me lembro.