sábado, 13 de novembro de 2010

Canções a Quem?

Eu não escrevo pra você, e nem pra trazer nenhuma angústia. Eu só me reinvento, me desdenho e me deixo levar, como Desdemona perdida num mar, sem cais. Entretanto sou essa mesma luz. Cada um de nós sabe o que é e o que faz, sem decidir invadir por proeza esse barco lento, e deixar o bucolismo de lado pelo azul-passagem. Nada e nadar são atuações simplórias do ser, intérprete de cada movimento como um relógio solar.
Outrora pensei eu ser um personagem dúbio, como um Fausto. Mas nem tudo que se escolhe se vive intensamente, nem tudo que se plaina se corrige exatamente como deveria, no entrecorte de um exército falido, em queda suspensa pelo ar da dualidade universal. Entretanto sou essa verdade universal. Mas agora paira sobre a mente que jaz inerte uma dúvida: sou eu este ser duplo, ou escrevo por vontade maior, mentiras ousadas do ser eu?
Caminho neste mar como o filho do criador dos Cristãos, e, eu, posso fazer isso, sem sombra de qualquer dívida, nem a mim nem a outrem. Não devo mais nada, não devo voltar, não devo pecar, não devo morrer nem pagar nada e nem por nada, sou ser invólucro na casca-mãe da água, neste oceano de canções a ninguém. E eu não escrevo pra ninguém. Escrevo pelo que deixo sobrar no meu coração, pelo que deixo assombrar minha razão, pelo que deixo engasgar em minha garganta, pelo que desejo encontrar no dia em que voltar para aquela nau de solstício, para a casa branda que eu cavei para enterrar tudo que sobrou. Quem sabe um dia eu escreverei para mim.

2 comentários:

  1. Hey!

    Texto sombrio. Muuito bom,como tudo o que você escreve! *.*

    ResponderExcluir
  2. Você e suas paixões classicistas me fazendo boiar nas metáforas/comparações. Mto paia vc =p
    Mas das partes entendíveis, tá fodão :3

    ResponderExcluir