sexta-feira, 5 de novembro de 2010

A Alameda do Infinito

E todo o céu deixara de ser azul turquesa, deixava o mar aéreo escapar de nossos olhos simples e singelos que apenas enxergavam as coisas e as cores, embebidos de cansaço e sono. O que era anil em negro se manifestava, com água que caía e nuvens tensas que formavam esfumaçados panteõs acima de nossas cabeças. Pouco importava o que acontecia ao redor: A cidade posava para nós intacta, como reflexo dos sentidos e das tênues linhas de distorção entre o concreto e o metal, entre vidros espelhados e trabalhadores assalariados. O devaneio todo consistiu em procurar razão e satisfação na beleza daquela alameda singela e afogada, onde víamos de longe as flores em tons róseos que envaidecem qualquer pensador. E a água insistia em cair devagar, molhando mãos, capas, folhas, cabelos e gestos, todos impensados, todos naturais como a natureza que deveras, em meio a tantos prédios de importância muitas vezes passa esquecida. A certeza total é que esse tempo é novo, começou em poucos momentos, porém, cada momento parece que nunca mais voltará. E não voltará mesmo, pois as coisas ao nosso redor são ilúcidas e atemporais, mesmo em meio a temporais, não correm como rio para o mar, perdem-se no ar como as penugens dos pássaros do Planalto Central. As sementes das sâmaras que rodopiam; os inusitados gramados esverdeados nas entre quadras; as poças mágicas d'água que refletem as histórias, problemas e sonhos dos cidadãos que os pisam; as flores amareladas da vegetação que a pouco tempo, ainda se escondia entre a poeira e a seca central. É tempo de todas elas se mostrarem, e com esse desejo, vem o nosso de nos escondermos menos. Façamos como prédios e sejamos imponentes, acessíveis para quem merece; façamos como as flores e sejamos belos, para quem as enxerga; façamos como as gotas de chuva pesadas que caem deste céu de Novembro, trazendo a renovação daquilo que nem todos acreditam ser uma realidade. É real, é intenso: Somos filhos da cidade-concreto, mas somos de carne. Somos filhos da cidade-cinza, mas não há mais frio em nossos corações.

3 comentários:

  1. *---*

    Como você mesmo disse é muito intenso. *.*
    É intenso interpretar a cidade e demonstrá-la de forma tão perfeita.

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  2. O poeta desvaneio.... é faz sentido.
    rssrsr.
    Muito bom esse post, simples, singelo.
    continue assim.

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  3. Cara, estou há 15 minutos boquiaberto e sem palavras sobre o que comentar sobre seu texto. Pra mim, é o melhor que eu já li até agora (ou pelo menos ele me provocou tamanha identificação que tenho dúvida se prefiro isso a sexo, fikdik)
    Sério, perdi completamente a noção pra escrever algo bonitinho, resolvi postar logo o que tava sentindo; ainda sinto arrepios só de olhar sem ler.
    Sério, as comparações são perfeitas, as reflexões tão profundas e concretas, e tudo é tão verdadeiro encrustado no contexto molhado de novembro em Brasília, que nem sei o que comentar.
    E as sâmaras! *-*
    Vou parar de escrever pq já disse muita coisa sem pensar. É melhor eu enviar isso antes de ler, pois sei que tá tosco. Mas foi o que senti de momento.

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