Calou-se o jovem, debruçando-se sobre a alcova que aos olhos, já lhe parecia embebido de sangue e sono. Calei-me apenas porque subitamente afoguei-me e adentrei as margens dos meus próprios devaneios, e, quando emergiste, havia dentro a má sorte, uma caveira e dois dedos de rum num copo empoeirado. Repentinamente, ouço o breve tilintar de sinos. Acendo um charuto e deleito-me do incontido prazer que dele emana, e clama por meus lábios. Eu, exasperado, sento na cadeira revestida de veludo vermelho, antiga como esse desejo infame que, deposto, já corrompe alma e corpo. O perfume que sinto é enigmático... Aos poucos o quarto que me envolve está opaco, e a fumaça interpõe-se no ambiente, onde a sutileza das vestes despidas há momentos atrás me deixam, por segundos, sóbrio: sou mundano e caído, como anjo de asas tortas, desafiando as entrecortadas linhas da vida, do amor e da vergonha. Aos poucos a lucidez penetra uma das caveiras que nesse quarto estão: a minha. E o meu sangue torna a almejar o restante do álcool, elixir da imortalidade. Rum, o lugar, o palco, o espaço onde a criatividade cria asas, e o anjo decaído pode voar. Porém a fumaça do tabaco emaltado me suspende para algum lugar onde vejo minha imagem cedida neste lugar, como um saltimbanco. É nessa imagem mentirosa que escondo de mim a minha verdade, e com as asas de cera subirei aos céus três vezes, à espera de um beijo seu, para matar a minha vontade de voltar a ser o melhor ser: Eu.
Eu gosto muito mesmo desses seus textos enigmáticos!
ResponderExcluirPerfeito 3 vezes.
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Cara, eu já sabia disso mas volto a dizer: você é foda!
ResponderExcluirMuito perfeito como você consegue transformar cenas tão simples e comuns em algo enigmático e envolvente.
Sou sua fã *---*
Bom texto, enigmático por inteiro.
ResponderExcluirEu gosto até dos velhinhos :3
ResponderExcluirEnigmático que só vendo, mas ainda prefiro os românticos. Atualmente, soam mais verdadeiros