domingo, 24 de outubro de 2010

Círculo-Céu

Eram dois jovens recém-conhecidos embriagados pelo doce desejo de estarem novamente juntos. Andavam e divagavam; passeavam com o céu como tapete, sem conseguir reparar no brilho intenso que as estrelas poderiam ter em tão perto e tão pouco espaço, neutralizando tudo ao seu redor. Avistaram, de longe, um lugar, onde aparentemente poderiam continuar seu ciclo, sem o julgamento alheio e nem a repudia daqueles que ainda não estão preparados para todas as formas de amor. Envolveram-se ali como um ninho e se, não fosse o bastante, estavam agora com a brilhante manta negra sob eles e em seus olhos, já se via o invisível e indivisível arrepio que vinha das almas que se entregam sem requerer nada em troca, somente pelo fato de unirem-se como um só ser.
Passaram então a perceber, como o céu refletia-os sua beleza e as estrelas lhes pareciam sorrir. Entre beijos, sorrisos. Entre toques, palavras. E de repente aquele lugar, antes irreparável e esquecido, agora era altar particular, um reino onde o medo não tem casa. Havia uma estrela especial, e essa lhes virou filosofia, num delírio qualquer, talvez na intenção de que fosse esse reinado tão distante que eles pudessem se entregar, e seus corpos responderiam naturalmente a essas ambições.
Voltaram por vezes, mas poucas, neste lugar. Não por vontade, mas por tempo e por possibilidades, de talvez ser aquele um lugar tão especial que em tempos mais bravios não se avista de longe, sequer o círculo de metal ou os bancos de concreto que sempre os esperam. Voltaram lá recentemente com o amor já prometido e decidido, na cumplicidade que envolve os seres que decidem dedicar parte de sua vida a outro. Nesse momento, parar-se-ia o tempo vadio, que insiste em ser fugaz e escapar dos amantes inabalados. Parariam também tudo ao redor, em promessas que já sem cumprem, em vontades que vão além do que esperavam e tiveram em outros braços.
Dois jovens que, recém-enamorados, respeitam-se e sabem de cada pedra no caminho. E é com essas pedras, cada vez tiradas, que construirão seu castelo. E esse castelo será o reino deles, seu uníssono e desejável morar. E é nesse caminho que surgirão as suas verdades universais, seus desejos e que poderão contar um ao outro, seus sentimentos mais profundos. É com essas verdades que forjarão suas armas de defesa, por que o ataque não é parte da filosofia de quem ama. E nos braços, um do outro, servirão de acalento para seus corações, faça-se o dia solar ou não, e mesmo nas noites quentes de um Setembro que ainda está por vir, fará-se-á o momento em que as flores da primavera virão antes, o frio dos Invernos chegará quando se menos esperar, e, juntos, o calor desejado de um veraneio que jamais se desfará da pele febril, sem enfermidades, mas com a única razão que une dois pensamentos: A vida.

Um comentário:

  1. Mais uma vez,parabéns. Você sabe exatamente como fazer as palavras terem um sentido a mais do que elas realmente representam. Como disse antes, você tem um modo particular de escrever e isso o faz ser diferente de tantos outros poetas e amantes da escrita.


    *.*

    ResponderExcluir