domingo, 24 de outubro de 2010

Medo

         Tinha medo dos relâmpagos, dos trovões riscados em céu maciço, forte como escudo de vencedor. Tinha medo das paredes a me prender, do teto que me prensa como uma máquina de moer gente; das janelas abertas, deixando o calor externo entrar. Tenho medo das proezas que contava sem nenhum ouvido a ouvir, e das grandes histórias que aprendi nos livros, sem ninguém a apreciar. Tinha medo do futuro, pois o passado era temor menos insólito e sólido que eu tinha, desde que não me lembrasse do que eu não fazia. Foi eu quem pisei na lama, pra fazer com que o os seus sapatos de matriarca tivessem mais brilho e seus pés, menos dores. Eu me abstive do conforto e das regalias da juventude por terceiros; me calei enquanto a voz ecoava garganta abaixo, enquanto eu era só sonho irreal. 
         Mas eis que hoje vejo a chuva cair sobre minha cabeça e você me estende a mão, me mostrando que ela não é nociva. As paredes foram derrubadas e outras moldadas, lado a lado e sem fechaduras para aqueles que enxergam com os olhos do coração. O teto já não me sufoca mais, nem o Sol me ofusca, quando é você quem abre a minha janela. Meus devaneios, e até aquelas histórias que eu achava que nunca iria contar a ninguém, hoje faz olhos brilharem, e tiram as dúvidas dos que me cercam, com vontade de entender. Os sapatos só se sujam em dois pares, e vivo ainda sem o conforto almejado, mas minha voz pode ser ouvida em qualquer casa que eu quiser e puder entrar. Ouvir suas palavras de conforto e ter tua mão e me tocar, nem que seja por segundos escondidos, me tira os pés do chão; me transporta para outra realidade, muito menos dolorida do que a que antes, era minha verdade. Somos um só tudo.

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